
BULLYING – bem mais do que uma simples zoação entre pares.
A escola, antes identificada como um espaço de aprendizagem, desenvolvimento e solidariedade, atualmente têm encontrado muita dificuldade em cumprir esse papel. As inúmeras mudanças sociais e políticas que vem ocorrendo ao longo do tempo a invadiram e, com isso, a escola vem enfrentando problemas que exigem mecanismos e regras para a convivência harmônica e a implantação de programas de educação para a não violência.
Na literatura, há clássicos, como o Livro O meu pé de Laranja Lima, que referem a existência de agressões, ofensas, gozações, humilhações e o mal trato, que geravam discriminação, isolamento e exclusão. Este o um gancho para introduzirmos uma discussão tão urgente quanto necessária nos dias de hoje: como prevenir o BULLYING escolar?
Bullying não é doença, mas o médico não pode se omitir. Também não é um problema só da escola, pois requer medidas preventivas do poder público. Não ocorre somente por culpa da família, mas ela precisa participar. Não é de hoje que crianças e adolescentes apresentam identificação e seleção na relação com seus iguais, de forma que se enturmem nos mais diversos locais que freqüentam, como escolas, clubes e academias. Talvez por medo das conseqüências ou porque as obrigações e tarefas em sala de aula eram muito intensas, a prática de Bullying escolar, antes restringia-se a apelidos, amedrontamento, exploração e fofocas. Hoje, observamos a intimidação, a perseguição, o assedio (sexual e/ou moral), a dominação, a agressão e o roubo (por exploração).
A palavra inglesa que define o BULLY como valentão identifica aquele que intimida seus companheiros e o termo BULLYING se refere a todas as formas de agressão (física ou verbal) que ocorre repetidamente, sem motivação aparente, seja intencional ou não e exercida por um ou mais indivíduos, com a intenção de causar dor e angustia a outra pessoa ou grupo, considerado de menor capacidade. O objetivo desta prática, via de regra, é intimidar ou agredir sem dar a possibilidade de defesa numa relação desigual de forças e poder.
O bullying é um problema social que ocorre em todo o mundo e em diferentes contextos, sendo que os que envolvem ambientes escolares e de trabalho são mais ressaltados frente aos que ocorrem em família e vizinhança. Porém em todos estes ambientes pode-se observar a agressão que geralmente ocorre onde a supervisão de responsáveis e pessoas adultas não existe ou é reduzida.
A maioria das escolas, entretanto não admite a ocorrência de bullying entre seus alunos, ou mesmo não se apercebem de sua presença no cotidiano, determinando posturas para enfrentá-lo o que dificulta a instrumentalização de seu corpo docente e orientação e apoio aos discentes.
Nos dias de hoje é muito comum o uso de apelidos pejorativos que humilham e a zoação agressiva entre os jovens, que não é incomum se surpreenderem, quando chamados para explicar determinadas atitudes, passando a idéia errônea de que parecia que o colega deixava que lhe perseguisse. Também a família destes Bully(s), quando entrevistadas fazem vista-grossa para o comportamento relatado, sugerindo ser coisa de gente jovem, ou seja, uma expressão da cultura atual. Entretanto, diferente de uma brincadeira violenta, a atitude é hostil, violando o direito à integridade física e psicológica e a dignidade humana, e assim urge por esclarecimento e prevenção.
Existe uma categorização para o bullying: ii) Bullying direto – onde a agressão é explicita, sendo a forma mais comum entre meninos/homens; e ii) Bullying indireto – que produz o isolamento social da vítima, forma mais comum entre meninas/mulheres e crianças que acovardam-se perante as ameaças e violência física, sexual ou moral a que são expostos. Em qualquer das formas, o bullying é, talvez, o problema mais sério da atualidade no ambiente escolar, gerando evasão, vitimização e baixa auto-estima. Até agora tem sido muito difícil para a escola desenvolver mecanismos de controle e de identificação das atitudes de bullying uma vez que a infância é por si sói intensa, hiperativa e inusitada, porém aí está a necessidade de dar-lhe mais um olhar atento.
Brincadeiras com crueldade, prepotência, insensatez e atos desumanos podem ultrapassar o nível de tolerância, que para cada um é individual, levando a sofrimento desmedido. Se estas brincadeiras forem convertidas em posturas violentas e de intimidação, voltadas sempre para uma única pessoa, torna-se bullying e requerem um trabalho consciente para o seu manejo nas escolas, com a identificação de seus indicadores, que expressam as necessidades não atendidas e demandas pessoais, podendo favorecer o trato da questão.
O reconhecimento dos personagens envolvidos nos conflitos adjacentes, dinâmicas e conversas reflexivas sobre filmes biográficos, tratam do tema com responsabilidade, como ocorre no filme homônimo BULLYING, que oferece reflexões sobre o sofrimento de quem se torna estigmatizado por seus iguais, demonstra o despertar da resiliência numa turma considerada problematica, pela ação isolada, mas certeira, de um professor sensível aos problemas do meio.
Assim, para que a escola desempenhe seu papel de formar os alunos para tornarem-se indivíduos mais pacíficos ou pacificadores e éticos é de fundamental importância trabalhar o tema da violência escolar e de todas as condutas anti-sociais com todos os envolvidos direta ou indiretamente.
O abismo que nasce entre as pessoas decorre, quase sempre, de problemas na comunicação e se assim é, torna-se mais fácil encontrar soluções. Acreditamos que o conflito tem origem e fim no diálogo. Surge de sua escassez ou baixa qualidade e cessa por sua abundância ou alta qualidade.
A mediação (assim como as outras metodologias voltadas para a criação de contexto positivo para o estabelecimento de relações e convivência diferenciada qualitativamente, é a ponte que permite percorrer do espaço de inadequação ao caminho da reorientação, mudando a qualidade da comunicação. Surge para eliminar o abismo, e como uma ponte leva ao diálogo e entendimento.
Uma história de maltrato cursa sempre com medo, infelicidade, descrença desejo de morte. As crianças quando chegam a algum serviço médico é evidente o desinteresse pela saúde, as doenças oportunistas ou ferimentos inexplicáveis. O terror quase sempre é um dos sintomas.
O autor do livro Protect Your Vhild from bullying , o professor –PH.D Allan Beane desde que perdeu seu filho de 23 anos, vitima das conseqüências do bullying, após ter sofrimento no convívio social desde a infância, optando pelo suicídio, tornou-se especialista em prevenção e interrupção do bullying, e atualmente orienta crianças, pais e professores a prevenirem-se das agressões que acontecem com freqüência em grupos infantis. Este questiona como as crianças podem ser tão cruéis e norteando seu trabalho de prevenção afirma que:
“Queria saber se podia impedir o desenvolvimento da crueldade, e queria dete-la depois de já ter se desenvolvido”.
Algumas pesquisas referidas na American Academy of Pediatrics mostram que a participação dos pais é fundamental para evitar bullying.
Existem fatores de risco que aumentam a probabilidade de uma criança intimidar os outros, refere um estudo de Rashmi Shetgiri, da Universidade do Texas, nos EUA – somando dados coletados em 2003 e em 2007. Por exemplo, filhos de pais que reclamam muito deles ou ficam irritados freqüentemente e bullies, ou agressores, que possuem problemas emocionais, de desenvolvimento ou comportamental, são praticantes mais freqüentes de bullying.
A prevenção torna-se possível quando os pais conversam com seus filhos e conhecem seus colegas, supervisiona-os.
Importante se torna alertar os pais para aumentarem o envolvimento com os seus filhos, acompanhando as suas reações, principalmente perante a frustração, e a saúde mental destes.
O Instituto brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE) em 2009 realizou um levantamento que determinou:
- “O bullying é pratica de estudantes de capitais brasileiras numa proporção de 38%”
- “As Escolas Públicas tem 29,5% da presença do bullying a partir do sexto ano do Ensino Fundamental”.
- “Em Brasília e Belo Horizonte existe o maior índice de bullying: 35,6 e 35,3% respectivamente”.Acessando o trabalho de Dan Hólmios (2005) no site www.modelprograms.samhsa.gov/pafs/model/olweus.bully.pdf observa-se um modelo de combate ao bullying, onde o autor demonstra o círculo do bullying: - o bully/agressor pode ser impulsivo ou planejador ( psicopata) e os seus companheiros são os seguidores, apoiantes e apoiantes passivos.
- A vitima é denominado bullied e os que o acompanham são os defensores da vitima, defensores potenciais, e “voyeurs”.
A conseqüência para todos é nefasta e Oweus (2005) comenta que para a vítima o temor da escola é recorrente, levando-o a criar freqüentes desculpas para faltá-la.
A legislação brasileira oferece apoio às vítimas, através da constituição da republica Federativa do Brasil, 1988, Estatuto da criança e do adolescente, 1990, Lei de Diretrizes e bases do Ensino Nacional, 1996, Código civil, 200-2, Código Penal, 2011, Código de defesa do consumidor, 2011, Lei estadual no. 6935 de 23/09/2010, entre outras.
Entretanto, mais que punir, somente com a conscientização de todos sobre a presença do conflito, entendimento de seus norteadores legais e éticos e a prática da mediação será possível a restauração do ambiente escolar.
Entender o papel preventivo da escola, da família e do poder público é o caminho mais sólido para uma educação voltada à Paz universal.
Por Célia Passos e Olga Passos Ribeiro.
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